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A invasão das bets no futebol e os riscos para o futuro do esporte

Como observador atento do cenário futebolístico, não posso deixar de notar a crescente presença das casas de apostas, as famosas "bets", no mundo do futebol. O fenômeno, que começou de forma tímida, hoje domina as camisas dos clubes brasileiros e movimenta cifras milionárias.


Lucas Paquetá denunciado por suspeita de envolvimento em um esquema de manipulação de apostas esportivas no Campeonato Inglês. (Foto: West Ham/divulgação)

No Brasil, a situação é alarmante. Dos 60 times masculinos que compõem as séries A, B e C do Campeonato Brasileiro, impressionantes 52 exibem patrocínios de empresas de apostas. Mais preocupante ainda, 38 desses clubes têm as bets como patrocinadoras master. O Corinthians, por exemplo, fechou um acordo com a Esportes da Sorte que renderá aproximadamente R$ 103 milhões por ano, o maior do futebol brasileiro. Inclusive essa casa de apostas investiu R$ 57 milhões na contratação do astro holandês Memphis Depay.


Essa proliferação desenfreada das bets no futebol brasileiro não passou despercebida pelas autoridades. O Senado Federal instalou uma CPI, apelidada de "CPI das Bets", para investigar o impacto dos jogos de aposta online no orçamento das famílias e possíveis associações com o crime organizado e lavagem de dinheiro. A senadora Soraya Thronicke, uma das principais articuladoras da CPI, chegou a solicitar reforço de segurança à Polícia Federal, evidenciando a seriedade e os riscos envolvidos nessa investigação.


O caso envolvendo o jogador brasileiro Lucas Paquetá é um exemplo concreto dos problemas que podem surgir. O atleta do West Ham foi denunciado por suspeita de envolvimento em um esquema de manipulação de apostas esportivas no Campeonato Inglês. Esse episódio não só mancha a reputação do jogador, mas também levanta questões sobre a integridade do esporte como um todo.


O contrato da Esportes da Sorte com o Corinthians é o maior do futebol brasileiro. A casa de apostas investiu R$ 57 milhões na contratação do astro holandês Memphis Depay. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)


Enquanto o Brasil ainda debate a regulamentação das apostas esportivas, a Premier League inglesa deu um passo significativo na direção oposta. A liga decidiu vetar patrocínios de empresas de apostas nas camisas dos clubes durante os dias de jogo a partir da temporada 2026-2027. É uma medida pioneira que visa reduzir os impactos negativos dos jogos de azar, embora ainda permita patrocínios nas mangas e publicidade nos estádios.


Essa decisão da Premier League contrasta fortemente com a realidade atual, onde 11 dos 20 times do Campeonato Inglês têm empresas de apostas como principal patrocinador. É um recorde que evidencia a dimensão do problema.


A questão que fica é: o Brasil seguirá o exemplo da Premier League? Especialistas acreditam que uma proibição semelhante poderia acontecer por meio do poder legislativo, como ocorreu na Itália e na Espanha. No entanto, dado o volume de dinheiro envolvido e a dependência financeira de muitos clubes em relação a esses patrocínios, qualquer mudança drástica enfrentaria resistência significativa.


É inegável que as bets trouxeram um aporte financeiro considerável para os clubes, mas o preço a ser pago pode ser alto demais. A integridade do esporte, a saúde financeira e mental dos torcedores e a própria essência do futebol estão em jogo. É hora de uma reflexão séria sobre o futuro que queremos para o nosso futebol.





Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br


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