Por Patrícia Consorte
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) sempre existiu em nossa sociedade. Porém, até hoje, diagnosticá-lo ainda é um grande desafio para a medicina, dada a heterogeneidade na apresentação clínica e na ampla gama de possíveis genes causadores da doença. Com um crescente aumento de sua incidência, a identificação precoce dos sinais e o acompanhamento adequado dessa gestante com fatores de risco são fundamentais.
Caracterizada como uma alteração no desenvolvimento neuro cognitivo, o autismo é popularmente conhecido pelos estereotipados e repetitivos comportamentos, com comprometimento, também, das habilidades sociais dos indivíduos. Alguns sinais já podem ser identificados nos primeiros meses de vida, e o diagnóstico e intervenções precoces fazem toda diferença na vida do paciente e da família.
No início, os bebês dentro do espectro do autismo podem não demonstrar tantos sorrisos socialmente, com pouco contato visual ou interação com a face humana – dando preferência pelos brinquedos. Alguns podem inicialmente apresentar um desenvolvimento adequado e começarem a ter uma regressão de determinados marcos do desenvolvimento. A partir do primeiro ano de vida, os sinais mais presentes são a falta de apreço pelo toque, a não responsividade ao serem chamados por seus nomes, incômodo com sons altos e, principalmente, atraso na fala, apenas com pequenos balbucios. Ainda, muitos podem apresentar desde um déficit cognitivo até uma inteligência acima da média.
Como justificativa para tal diversidade, o TEA é uma doença com forte influência genética. A idade avançada, tanto das mães quanto dos pais, tem se mostrado como um dos fatores influenciadores, seguido de outros como exposições maternas durante o pré-natal ao tabagismo, medicações e álcool, até mesmo toxinas ambientais que possam impactar, modificando a epigenética dos pequenos, presentes em alimentos que contenham mercúrio e chumbo, ou utensílios do dia a dia, como sabonetes e maquiagem e medicamentos, por exemplo.
São inúmeros fatores que vêm aumentando cada vez mais a incidência da doença ao redor do mundo. Enquanto em 2004, os casos diagnosticados eram de 1 a cada 166 pessoas, em 2020, essa proporção foi significativamente reduzida, passando para 1 em cada 54 pessoas, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Ainda estamos lidando com um diagnóstico recente, incluído há poucas décadas na lista de doenças classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo diante da inexistência de exames laboratoriais para sua identificação, hoje temos instrumentos clínicos melhores, capazes de auxiliar no diagnóstico precoce na garantia de mais qualidade de vida.
Com cada vez mais crianças dentro deste espectro, não há mais como se limitar e focar apenas no tratamento após a identificação do TEA – principalmente uma vez que seus sinais podem demorar a se apresentarem. É indispensável o olhar para essa gestante ou tentante, a fim de adequar questões nutricionais, comportamentais e de ambiente, tentando atuar nos mecanismo epigenéticos desse bebê.
Quando identificada, muitos estudam mostram que o tratamento focado na adequação nutricional, a exclusão de determinados alimentos alergênicos, bem como uma suplementação de vitaminas e minerais adequados é altamente benéfico para a redução dos sintomas do TEA, com uma grande melhora nos comportamentos repetitivos dos pequenos. Muitos bebês são seletivos em relação à sua alimentação, o que reforça a necessidade de acompanhar seu desenvolvimento com opções saudáveis e, se necessário, suplementação adequada de vitaminas.
O acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, com pediatra, fonoaudiólogos, nutricionistas e terapeutas ocupacionais, também é importante para uma análise mais minuciosa de todos esses fatores. Somente assim, teremos mais chances de diagnosticar precocemente o TEA, proporcionando um futuro mais saudável para os pequenos, de forma que se tornem adultos independentes e produtivos para nossa sociedade.
Dra. Patrícia Consorte é pediatra e especialista em nutrição materno-infantil.
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