Por Roberto Maia
Como observador atento do futebol brasileiro, posso afirmar que a conquista do Sul-Americano Sub-20 pela Seleção Brasileira na Venezuela foi uma verdadeira lição de resiliência e superação. O início da campanha não poderia ter sido mais traumático: uma derrota histórica por 6 a 0 para a Argentina, a maior goleada já sofrida pela categoria. Naquele momento, confesso que as perspectivas pareciam sombrias.

No entanto, o que se seguiu foi uma demonstração impressionante de força mental desses jovens atletas promissores. A evolução da equipe ao longo do torneio foi notável, especialmente no aspecto defensivo. Enquanto nos quatro primeiros jogos o time sofreu dez gols, nos cinco jogos da fase final apenas duas bolas balançaram as redes brasileiras. Esta metamorfose defensiva não foi por acaso.
O técnico Ramon Menezes teve a sabedoria de promover mudanças cruciais na equipe. A entrada do goleiro Felipe Longo, do lateral Leandrinho e do zagueiro Iago trouxe mais consistência à defesa. Iago, em particular, merece destaque especial. Além de sua solidez defensiva, contribuiu com dois gols em bolas paradas, evidenciando a importância deste fundamento para a conquista – cinco dos 14 gols da equipe vieram dessas situações.
O meio-campo apresentou uma química interessante, especialmente com a dupla formada nas categorias de base do Corinthians: Breno Bidon e Gabriel Moscardo, este último já negociado com o PSG. A presença de Pedrinho na armação, outro produto da base corintiana, agregou criatividade ao setor. Pelos lados do campo, Rayan, Gustavo Prado, Wesley (também ex-Corinthians) e Alisson mostraram-se peças fundamentais no esquema tático.

No ataque, Deivid Washington provou seu faro de gol, terminando como artilheiro da equipe com três tentos. É interessante notar como o talento individual destes jovens atletas, mesmo em momentos de dificuldade coletiva, acabou prevalecendo sobre as demais seleções sul-americanas.
A final contra o Chile foi emblemática. Mesmo sem apresentar um futebol deslumbrante, a equipe mostrou maturidade para construir uma vitória por 3 a 0, com gols de David Washington, Pedrinho e Ricardo Mathias, todos no segundo tempo. A conquista do 13º título sul-americano da categoria se completou com a derrota argentina para o Paraguai.
O que mais me impressionou nesta conquista foi a capacidade de recuperação demonstrada por estes jovens. Vestir a camisa da seleção brasileira já carrega uma pressão natural, mas fazê-lo após sofrer a maior derrota da história é um teste de caráter ainda maior. A resposta veio logo no segundo confronto contra a Argentina, com um empate por 1 a 1 arrancado nos minutos finais, após um primeiro tempo de dominação adversária.

Esta conquista tem um sabor especial também para Ramon Menezes, que se tornou bicampeão sul-americano Sub-20, repetindo o feito de 2022. Como ele mesmo destacou, este foi possivelmente seu maior desafio à frente da seleção, superado com uma demonstração impressionante de poder de recuperação desta geração.
O título não apenas mantém a hegemonia brasileira na categoria como também garante vaga no Mundial Sub-20, que será realizado no Chile entre setembro e outubro. É uma oportunidade para estes jovens talentos continuarem seu desenvolvimento e, quem sabe, começarem a traçar um caminho que pode levá-los à seleção principal, que há tanto tempo busca resgatar seu protagonismo no cenário mundial.

Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br
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