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Foto do escritorDiretoria JBA

De Paris para Atenas durante a pandemia e a cela de luxo 412

Por Paulo Panayotis Atenas - Grécia. "Seu bilhete aéreo, por favor". Me antecipo e mostro o cartão de embarque ao segurança ainda do lado de fora do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Estou embarcando da França para a Grécia. Por conta das restrições da pandemia, somente cidadãos gregos, seus familiares, diplomatas, militares em serviço e funcionários em missões podem entrar na Grécia. Estamos no dia 10 de junho de 2020. Tudo ainda está indefinido a poucas semanas da alta estação na Europa. Tenho dupla cidadania, grega e brasileira. Todos sabem que a Grécia, pequeno país europeu, acumula grandes vitórias no combate ao #Covid19. Quero deixar aqui meu relato e revelar, como testemunha ocular, a razão.

Após entrar no terminal 2F do aeroporto Charles de Gaulle, o único em operação naquele instante, sigo para o check in. Atenção! Aqui o primeiro alerta e a primeira dica. Sua mala passou de 23 quilos? Vai ter que pagar excesso de bagagem. Tirando a classe executiva, a grande totalidade das empresas aéreas disponibiliza passagens com apenas uma mala de 23 quilos despachada e uma mala de mão de até 12 kg, no caso da Air France, companhia aérea com a qual estou viajando. Tudo, repito, tudo é automático no check in. Não há atendentes e os pouquíssimos funcionários da companhia não fazem mais o check in. Apenas informam. Você mesmo faz seu check in online - ou nos terminais automáticos no aeroporto - imprime as tarjetas de identificação e as adiciona nas malas, coloca sua bagagem nas esteiras rolantes e, se tiver excesso de peso, a máquina alerta: paga ou sai da fila? Atrasado e sem pesar as malas antes, você pagará! Check in feito, passagem pelos procedimentos de segurança, espera, embarque. Máscaras são obrigatórias dentro do aeroporto e durante todo o voo.


Avião quase lotado! Que distanciamento social que nada.

Empresa aérea, como qualquer outra, visa lucro. Algumas mais outras, outras menos. O serviço de bordo se resume a um misto frio. Por ser um voo internacional com mais de três horas de duração, ainda há bebidas alcoólicas. Para mim, é ainda um dos bons serviços remanescentes da Air France. Após três horas e quinze minutos aterrissamos no aeroporto internacional Eleftérios Venizellos em Atenas. Pelo alto falante, o comandante avisa que somente desembarcarão 30 passageiros, a cada vez, porque todos, repito, todos, terão que fazer testes para detectar coronavírus antes de deixar o aeroporto.

Na chega ao aeroporto grego

Sempre acompanhados de oficiais gregos, os grupos são testados e, em seguida retiram as bagagens. Seguimos, em grupos, para os ônibus que nos levam a hotéis especialmente designados pelas autoridades onde esperaremos, segundo eles, entre 24 e 36 horas até que saiam os resultados dos testes. Na recepção, todos com máscaras, funcionários e recepcionistas, tiram cópias dos passaportes e nos informam: "O Senhor, pode subir para o quarto 412 com sua bagagem. E aviso que o senhor está estritamente proibido de deixar seu quarto sob pena de pagar uma multa de cinco mil euros. Todas as refeições serão entregues no seu quarto. Seja bem vindo à Grécia e tenha uma excelente estadia"


Quarentena: Prisioneiro em um Hotel de Luxo pago pelo governo grego


Sentindo-me um prisioneiro de luxo, em um hotel cinco estrelas, espero pacientemente minhas "quentinhas" de café da manhã, almoço e jantar até que os resultados cheguem. Por volta das 23 horas do dia seguinte, o telefone toca e a voz de um tal Dimitri, que se identifica como funcionário do Ministério da Saúde, pergunta em um inglês com forte sotaque helênico. "É o senhor Panayotis?" - Sim, respondo eu. "Os testes deram negativo. O senhor já pode ir embora". Mas agora, pergunto eu? São onze horas da noite! "Não meu senhor, responde ele sorrindo, amanha de manhã após o café da manhã o senhor pode deixar o hotel, mas terá que permanecer mais sete dias em quarentena antes de poder circular livremente pela Grécia", alerta ele. Feliz, me preparo para a 'semi alforria' no dia seguinte e durmo com aquela sensação boa de receber o resultado do teste negativo.

No cardápio, ovos, queijo, pão, manteiga, café, leite, além de garrafas de água mineral, pela manhã. No almoço e jantar, massa ou carne, arroz ou batatas, suco e sobremesa, uma fruta ou gelatina. Serviço impecável e saboroso! Tudo, repito, tudo pago pelo governo grego, hoje sob o comando do primeiro ministro K. Mitsotákis. Uma semana depois, deixei pela primeira vez o apartamento onde estava hospedado. Isso tudo ocorreu há algumas semanas. Neste dia primeiro de julho, a Grécia reabre as fronteiras para mais 17 países. Brasil, Estados Unidos, Turquia e Rússia, por motivos óbvios, não fazem parte desta lista.


Até o momento, a Grécia apresentou baixíssimo número de infectados e mortos por Covid 19, se comparada a outros países europeus. Agiu rápido, de forma cirúrgica, profilática e organizada. Tudo o que os quatro países que citei acima não fizeram e não farão. Pena! A alta temporada e os gregos, por conta de todos os esforços, ainda traz esperanças de turistas deixando divisas. O que irá acontecer? Ninguém sabe. Vamos torcer! O que se sabe? É que a ciência e o bom senso se não salvaram o país da pandemia, ao menos serviram para mostrar que a Grécia, tão pequenininha, deu um bom exemplo. E que, seguramente, será uma das primeiras nações a se reerguer.


E o Brasil? Bem, por enquanto, vamos mudar de assunto...



Paulo Panayotis é jornalista especialista em turismo, mergulhador e fundador do Portal OQVPM - O Que Vi Pelo Mundo. Mora na Europa, tem passaporte carimbado em mais de 50 países e viaja com patrocínio e apoio Avis, Travel Ace e Alitalia.

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