Por Paulo Panayotis
Courchevel - Alpes franceses. Quem, quando criança, nunca sonhou em dormir nas nuvens? Quem, depois que cresceu, nunca sonhou em dormir quentinho com neve caindo lá fora? Pois em Courchevel, nos Alpes franceses, realizei esses dois sonhos ao mesmo tempo. Enquanto a van segue subindo, a neve segue caindo. Courchevel na verdade é constituída por quatro, digamos assim, vilas: Courchevel 1300, ou Le praz, Courchevel 1550, Courchevel 1650, ou Moriond e Courchevel 1850. Aqui, vou me referir à 1850, a mais alta, luxuosa e badalada das quatro. Chego à noite. Neve que Deus manda! Não dá para ter uma noção clara do que é este mundo que em tudo remete ao Natal, ao Papai Noel. O fato é que se trata de uma das mais chiques e exclusivas estações de esqui do planeta. Realeza, nobres, ricos e famosos, russos e mais russos, são comuns por aqui.
Até por conta disto, me surpreendo com o nível, a sofisticação e o serviço. Chego ao hotel Annapurna. Annapurna, originalmente, é um gigantesco maciço no Himalaia, mais precisamente ao norte do Nepal. Mas é também o nome do meu hotel. Uma acomodação cinco estrelas, uma das mais tradicionais de Courchevel 1850. Fico em uma das melhores suítes, com vista para uma das principais pistas de esqui do lugar. Quer melhorar? Com saída direta do hotel para a pista, algo muito comum por aqui, chamado Ski in, Ski out! Chique prá dedéu, né?
O Annapurna, me diz a simpática recepcionista, é o mais antigo hotel de Courchevel 1850. Jantar e cama. Somente no dia seguinte me dou conta de onde estou. Acordo com um leve barulho. Abro as cortinas. Ainda é noite. Máquinas gigantescas projetam faróis amarelos na neve branca. Estão “alisando” a neve. Mais: estão prevenindo eventuais avalanches - raras por aqui. Bum, bum, bum! Meu deus, será avalanche? Nada! São bombas estrategicamente detonadas para “deslocar” neve fofa e evitar o que? Avalanche. Que “fofo”, penso eu. Já havia adorado o restaurante na noite anterior. Me encanto pelo café da manhã. Salmão defumado, suco de grapefruit e muitos, muitos pães fresquinhos! O zun zun zun de uma língua estranha está por toda a parte. Spaciba! Bingo: são russos!
Mas há também europeus de toda a parte, norte americanos, chineses, japoneses e, claro, brasileiros. Hora de esquiar. Ou ao menos tentar. Me saio satisfatoriamente, tanto que estou aqui inteiro, agora, escrevendo este texto, não estou?
Descubro que são mais de 47 hotéis de alto luxo pelas redondezas. Dezoito deles cinco estrelas! Três deles considerados palácios! Os instrutores de esqui, verdadeiros modelos para os padrões estéticos ocidentais, falam 12 línguas diferentes. Cinquenta deles desenrolam em português! Aman Le Mélézin é o mais novo cinco estrelas do lugar. Clássico e classudo, está quase no centro da Vila 1850. Localização privilegiadíssima. Suítes e instalações novinhas em folha. Chiquérrimo. Daqueles lugares onde encontrar com George Clooney não é mais que obrigação! No Hôtel Saint Roch, de dia, tudo branco, à noite, tudo preto. Não, não é força de expressão! Eles mudam tudo mesmo neste outro cinco estrelas badaladérrimo e discretíssimo. Como gostam os ricos e famosos, ne c’est-pas? Não é mesmo?
No hotel Barrière Les Neiges, um clássico em toda a França, encontro dois dos melhores restaurantes da vila e um serviço impecável. Como faz parte da badalada rede The Leading Hotels of the World, ou você é habitué, ou tem que sambar, digo, esquiar, para conseguir um quartinho na alta estação. E o que dizer do emblemático complexo Le Chabichou? Prestes a se tornar o único restaurante com direito a três estrelas Michelin em toda a região, a simpatia do dono, o lendário Michel Rochedy, faz toda a diferença. Ele começou, há décadas, com um pequeno restaurante e uma hospedaria simples. Naquela época, Courchevel era uma isolada e desconhecida vila alpina francesa. Em 70 anos Rochedy ajudou a transformar uma simples vilinha gelada e inexpressiva, no maior complexo esquiável do mundo e no mais chique do planeta. Para Rochedy, que comemorou 81 anos de vida em 2017, o segredo é um só: dedicação, simplicidade e excelência. Tanto nos produtos quantos nos serviços. Levo de Courchevel a sensação de ter vencido uma avalanche de sensações novas e a convicção de que, mesmo sem ser um “áz” no esqui, voltarei com certeza. Inesquecíveis as noites dormindo quentinho na montanha e, lá fora, a neve caindo... Bum, bum, bum... É mais um dia começando em Courchevel.
Fotos: Paulo Panayotis / Adriana Reis - © O Que Vi Pelo Mundo
Paulo Panayotis é jornalista especialista em turismo, mergulhador e fundador do Portal OQVPM - O Que Vi Pelo Mundo. Mora na Europa, tem passaporte carimbado em mais de 50 países e viaja com patrocínio e apoio Avis, Travel Ace e Alitalia.
Comments