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Foto do escritorRedação JBA

Formação no audiovisual traz novas perspectivas para jovens periféricos

Programa Bolsa Trabalho, da Prefeitura de São Paulo, disponibiliza bolsa no valor de R$ 1.623 para cerca de 100 alunos que desejam se profissionalizar no setor


Foto: Fred Bazzolli

O setor de tecnologia e o de economia criativa – duas das maiores apostas da Prefeitura de São Paulo para o desenvolvimento local – andam de mãos dadas em uma das maiores iniciativas de qualificação profissional no município: o programa Bolsa Trabalho: Audiovisual e Tecnologia. Ele contempla centenas de jovens de baixa renda da Capital com cursos de capacitação, enquanto oferece uma bolsa-auxílio mensal para cada um deles. O projeto acontece por meio da parceria com o Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias, que completa 20 anos essa semana.


O programa Bolsa Trabalho atua em conjunto com o Criar desde o início, em 2004. Os beneficiários, que agora podem ter entre 14 e 29 anos, participam do curso e contam auxílio mensal de R$ 1.623,80, para a permanência nas atividades. A formação é em período integral e dura cerca de um ano. Durante o aprendizado, os estudantes podem escolher se especializar em Fotografia, Direção de Arte, Roteiro, Produção, Pós-Produção, Áudio ou Tecnologia.


“O setor do audiovisual é responsável por aproximadamente 600 mil empregos na Capital, segundo dados do Caged de maio deste ano. É um segmento econômico importante e, sobretudo, um setor que o jovem tem afinidade, integrando a economia criativa de São Paulo que está cada vez mais aquecida”, destaca a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Eunice Prudente. “Estamos formando profissionais para explorar os segmentos que podem proporcionar maiores possibilidades de geração de renda à juventude, seja pelo emprego formal ou no empreendedorismo, no qual temos a Ade Sampa que fomenta a área com editais e mentorias”, completa.

20 anos do Instituto Criar


Para celebrar essas duas décadas de atividades e o protagonismo de uma nova geração de contadores de histórias e suas diferentes narrativas e estéticas, o Instituto Criar, em parceria com a Kinoforum, promove quatro sessões especiais com curtas-metragens produzidos pelos jovens formados pela entidade, na 35ª edição do Festival Internacional de Curtas de São Paulo. As últimas duas sessões acontecem no dia 31 de agosto, na Cinemateca Brasileira, e no dia 1° de setembro, no Centro Cultural São Paulo.


A partir do trabalho de pesquisa, curadoria e programação de Heitor Augusto, a Sessão Especial 20 anos apresenta um pequeno e delicado recorte dentre as 163 produções realizadas como Projetos Experimentais de Curso pelos mais de 2.800 jovens que passaram pelo Programa de Formação Audiovisual + Tecnologia.


Foto: Fred Bazzolli

Carreira


Priscila Machado, gerente executiva (e também ex-aluna) do Criar, conta que a colaboração com a área municipalidade existe desde a criação do instituto. “Ela é primordial não apenas para que os jovens possam se dedicar ao curso, mas também porque, pensando no âmbito de desenvolvimento econômico e trabalho, ela faz com que jovens periféricos e de baixa renda consigam se projetar no mercado do audiovisual, alimentando e diversificando esse ecossistema”, explica.


O Bolsa Trabalho é também um pilar importante para incentivar os jovens a não abandonarem os estudos formais. Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o principal motivo para o abandono dos estudos na faixa etária de 15 a 29 anos é a necessidade de trabalhar. “Oferecer oportunidades de capacitação gratuita para jovens é essencial, mas uma política pública completa é a que considera que, mesmo assim, para muitos deles deixar de contribuir com as despesas da casa não é uma opção. Fornecemos a bolsa-auxílio para que, ao invés de entrarem no trabalho precarizado, eles possam se especializar e depois integrar o mercado com emprego digno”, salienta Eunice Prudente.


Um exemplo disso é Keith Lima, que se formou pelo programa em 2022 e, desde então, integrou a equipe de produção de dois projetos que serão lançados em breve nos streamings: a série “Americana” no Star+ (pela produtora Cinefilm) e a novela “Beleza Fatal” na HBO (pela Coração da Selva).


Ela conta que durante o ensino médio, morando em Cidade Tiradentes, nunca tinha pensado na possibilidade de seguir essa carreira. Até uma amiga, também ex-aluna, indicou a inscrição no Bolsa Trabalho. “Quando se fala de jovens dentro da periferia, quando a gente sai do ensino médio (ou até bem antes), precisamos trabalhar, ajudar em casa. Nem passa pela cabeça essa visão ‘Ah, e se eu for trabalhar com cinema?’”.


Segundo Keith, com a renda fixa ela conseguiu se organizar para ajudar a sua mãe e concretizar pequenas metas e sonhos. “Quando a gente dá essa possibilidade para um jovem – de estudar algo que faz sentido pra ele, que é gostoso, que é divertido – isso tem um impacto não só na vida daquele indivíduo, mas nas pessoas ao redor dele também”.


Atualmente, a profissional se dedica a um projeto pessoal, encabeçado junto a outros criadores que vêm das periferias da Capital: a Iyagbás Produções. A produtora, fundada em 2023, inaugura o movimento Projetando Afetos – Uma Encruzilhada Amorosa. Nas palavras de Keith, “ele nasce desse encontro de encruzilhada das periferias das zonas leste, norte e sul da cidade de São Paulo”. Eles se preparam para o lançamento do curta-metragem “Espelho D’água”, que vem acompanhado de um podcast de quatro episódios entrevistando coletivos e artistas independentes da cena paulistana.


Keith comenta que as iniciativas – tanto individuais quanto públicas – são importantes para equilibrar um mercado de trabalho que é desigual. “A perspectiva de carreira é muito ampla, mas na grande indústria as pessoas pretas, com deficiência e/ou LGBTs ainda não ocupam os cargos de liderança. O meu projeto, coordenado por uma maioria de mulheres pretas, procura fazer com que o lucro gerado pelas produções que se baseiam na vida e no trabalho de pessoas de baixa renda circule ali entre elas”.


Em recente pesquisa realizada pela Quaest, encomendada pelo Criar por ocasião de suas décadas de atuação, mostra que 88% dos veteranos estão trabalhando, sendo 76% na área do audiovisual e da tecnologia; 83% afirmam ser a pessoa com maior salário da sua família; 60% dos formados pelo Criar não moram na mesma casa de quando eram estudantes e 88% foram para um lugar melhor e mais propício para carreira. Quase duas décadas após o Criar, o incremento da renda ao longo do tempo chega aos 844%.


23% tornaram-se educadores (dentro da realidade de um país que nem 2,5% da população sonha em ser professor); 30% começaram uma organização para gerar impacto social. 47% dos veteranos participam ou já participaram de algum coletivo audiovisual periférico, realizando trabalhos autorais com autenticidade e revelando o potencial dessa identidade nas novas narrativas e estéticas.


Turma atual


O ambiente para os alunos do curso é dinâmico. Alguns passam a maior parte do tempo na sala de figurino e cenário, como Dandara dos Anjos, de 18 anos, que é do núcleo de direção de arte. Durante a noite, ela também cursa o superior em Publicidade e Propaganda. “Estar aqui com o apoio do Bolsa Trabalho significa não precisar cortar o meu lado artístico para poder pagar as contas”.


Ela diz que o programa a ajudou a definir melhor seu projeto de vida e de carreira, pois direção de arte e propaganda mesclam bem quando se explora o lado criativo. “Comecei a me enxergar como artista. Antes, onde eu estudava e morava, não tinham tantas pessoas com realidades e gostos parecidos com os meus, mas aqui parece que todo mundo veio do mesmo lugar e a gente tá caminhando junto”.


Outros alunos se concentram na sala de roteiro, como Wesley Soares, estudante de história que enxerga no audiovisual um veículo de autoexpressão, de registro e de mudança social. “Eu gosto muito dessa possibilidade de representar o seu sonho, a sua história. Acredito que cultura está na linha de frente, na base da sociedade – é por meio dela que a gente sabe o cerne dos problemas e dos sonhos”.


“Me encheu os olhos quando eu vi que tinha a chance de ganhar dinheiro para estudar. Quando o poder público faz isso, ele está valorizando a educação, o conhecimento. Além disso, a gente precisa né desses recursos para sobreviver como artista e como estudante. Barriga cheia também é desenvolvimento, não tem como fazer arte sem isso”.


O programa com foco no audiovisual tem previsão de abertura das inscrições para os novos bolsistas (que farão parte da turma do ano que vem) até outubro deste ano.


Programa Bolsa Trabalho


O Bolsa Trabalho possui projetos com atuação no Audiovisual, Tecnologia e Administração. Os participantes contam com uma bolsa-auxílio que varia entre R$ 487,14 e R$ 1.623,80, dependendo da carga horária da atividade, mas todos são destinados a pessoas de 14 a 29 anos, que pertencem a famílias com renda igual ou inferior a meio salário-mínimo por pessoa. Além disso, é necessário que estejam matriculados na rede de ensino (mantendo a frequência nas aulas) ou que já tenham concluído o ensino médio.


Instituto Criar na 35ª edição do Festival de Curtas de São Paulo


Programação

28/08 – 15h30 – Espaço Augusta – Sala 4 (Programa 2)

31/08 – 20h30 – Cinemateca – Sala Oscarito (Programa 2)

01/09 – 17h – SPCine - CCSP Lima Barreto (Programa 1)


Informações: institutocriar.org

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