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Foto do escritorRoberto Maia

Futebol acima de tudo, de todos e da vida

Por Roberto Maia


A realização do jogo entre Corinthians e Mirassol, válido pela quinta rodada do Campeonato Paulista, na cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, certamente irá entrar para a história da competição. E da forma mais negativa possível. Afinal o jogo aconteceu no mesmo dia em que a pandemia de Covid-19 bateu um triste recorde no Brasil com a morte de 3.158 pessoas em apenas 24 horas.


A prefeitura de Volta Redonda abriu as portas para a Federação Paulista de Futebol para a realização dos jogos entre Corinthians e Mirassol e também Palmeiras e São Bento em troca da doação de dez respiradores e monitores para a criação de leitos de UTI no município para tratamento de pacientes com a covid-19. A medida ajudou à FPF driblar as recomendações do Governo de São Paulo, que suspendeu o futebol no estado até o dia 30 de março.

Seguindo orientação da FPF, os jogadores do Corinthians e do Mirassol, além da equipe de arbitragem, entraram em campo com máscaras. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Até a fanática torcida corinthiana não concordou com a realização do jogo e foram muitos os protestos nas redes sociais. E um grupo de conselheiros do clube enviou um manifesto ao presidente Duílio Monteiro Alves solicitando que o time não fosse a campo para o jogo. “A anuência da Presidência e da atual Diretoria com a continuidade da prática do desporto nessa situação representa um prejuízo histórico e uma mancha na nossa trajetória. Mais do que a questão sanitária, trata-se se um exemplo, de uma sinalização do Time do Povo para toda a sociedade. O Corinthians deveria dar o exemplo e não jogar nenhum campeonato nessas condições”, diz um trecho da carta.


De nada adiantaram os protestos e a bola rolou no estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda. Orientados pela FPF, os dois times entraram em campo com máscaras e até posaram para a tradicional foto com o item no rosto. Também houve dois minutos de silêncio em homenagem às vítimas do novo coronavírus. Um no início do jogo e outro aos 22 minutos do primeiro tempo, logo após o gol do Corinthians.


O jogo até que foi bastante movimentado, mas de maneira geral não conseguiu empolgar os torcedores. Afinal não dá para esquecer as mais de 300 mil mortes no país. Exemplo disso foi uma mensagem via WhatApp que recebi de uma amiga corinthiana durante o jogo. “Estou vendo a novela. Sinto vergonha pelo Corinthians estar jogando hoje.”


Mas não foi apenas a FPF que driblou as recomendações do Governo paulista para seguir com o futebol. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também aproveitou a generosidade de algumas prefeituras fluminenses e marcou jogos válidos pela Copa do Brasil. Assim, o Timão continua no Rio de Janeiro até sexta-feira, dia 26, para enfrentar o Retrô (PE), em Bacaxá, distrito de Saquarema. Bom lembrar que o mando do jogo é do Timão, que abriu mão de atuar em sua moderna Neo Química Arena para jogar no acanhado estádio Elcyr Resende de Mendonça.

Jogadores não se posicionam, evitam comentar o assunto e seguem jogando o futebol como se nada estivesse acontecendo. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Jaraguá e Manaus e Goianésia e CRB também jogarão no Rio de Janeiro em partidas da Copa do Brasil que foram adiadas por conta de decreto que proibiu jogos em Goiás. Os jogos serão realizados respectivamente na sexta-feira e no sábado nas cidades de Volta Redonda e Mesquita.


Essa é a triste realidade do futebol brasileiro, que insiste em estar acima de tudo e de todos. Não pode jogar em uma cidade, não tem problema, faz o jogo em outra. Não pode no Estado, viaja para outro. E assim vai rolando a bola dentro dessa bolha utópica. Infelizmente o mesmo princípio não vale para os empresários que estão com seus negócios fechados. E para os trabalhadores que estão com os empregos ameaçados. Esses não podem mudar suas lojas, restaurantes e hotéis para outro município e continuar funcionando normalmente.


Para os torcedores está cada vez mais difícil assistir aos jogos de futebol pela TV e vibrar como outrora. Como comemorar um gol quando tanta gente está morrendo em todo o país? Não é normal esse mundo do futebol.



Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Iniciou a carreira como repórter esportivo, mas também dedica-se a editoria de turismo, com passagens por jornais como MetroNews, Folha de São Paulo, O Dia, dentre outros. Atualmente é editor da revista Qual Viagem e portal Travelpedia.


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