Por Roberto Maia
Semana passada falei aqui sobre a criação de um novo modelo de clube-empresa no Brasil. Citei como exemplos alguns times da Europa que aderiram à modalidade algumas décadas atrás. Mas não falei dos Estados Unidos, país que leva ao extremo a prática de sociedades anônimas no esporte profissional.
Times de basquete da National Football League (NBA) e do futebol americano da National Football League (NFL), os mais populares nos EUA, são tratados como franquias. Mudam de donos e de cidades conforme o interesse financeiro. Milionários compram times nas ligas como quem compra um carro novo.
Mas nesse agressivo mundo capitalista no esporte norte-americano há uma exceção. É o Green Bay Packers, time profissional de futebol americano baseado na pequena cidade de Green Bay, no estado de Wisconsin. O time fundado em 1919 disputa a NFL e é o único da liga principal que não tem fins lucrativos e que pertencente à comunidade. Sim, é isso mesmo. Diferentemente das demais equipes profissionais, o Packers pertence a cidadãos comuns de classe média da cidade, e não a um dono ou empresa. Atualmente, pouco mais de 361 mil pessoas são donas do time.
O modelo de negócio do Packers vai na contramão dos demais integrantes da NFL, que arrecadam milhões de dólares, constroem arenas modernas e estão entre os que mais arrecadam na prestigiosa lista da revista Forbes.
Por não ter um dono, o Packers tem intima ligação com os seus torcedores e por isso nunca precisou sair Green Bay, que tem pouco mais de 100 mil habitantes. Nem por isso a equipe deixou de ganhar torcedores em Wisconsin e de outras partes dos EUA.
Para garantir que o time nunca tivesse que sair de Green Bay, constava na ata de fundação que os acionistas não teriam vantagens financeiras e se um dia o time fosse vendido, após a quitação das dívidas, o dinheiro restante deveria ir para o Sullivan Post of the American Legion para a construção de um memorial para soldados. Posteriormente, em 1997, os acionistas votaram para a mudança do beneficiário, que passou a ser o Green Bay Packers Foundation, que faz doações para diversas instituições de caridade no estado.
De tempos em tempos o Packers realiza venda de ações para levantar fundos para a equipe. Em cada uma delas, dezenas de milhões de dólares são arrecadados.
Os acionistas têm direitos de voto, nunca recebem dividendos e nem privilégio na compra de ingressos. Para evitar que um sócio com maioria das ações torne-se dono do time, nenhum deles pode ter mais que 200 mil quota-parte. Para administrar a organização, os acionistas elegem uma equipe de direção.
Regras rígidas da NFL garantem a competitividade do Packers. Na liga há um sistema de divisão de lucros iguais entre as franquias, além de teto salarial dos jogadores e limite na contratação de novos atletas.
E embora Green Bay seja o menor mercado esportivo profissional da América do Norte, o Packers venceu 13 campeonatos da NFL com nove títulos pré-Super Bowl e quatro vitórias no Super Bowl (1967, 1968, 1996 e 2010).
Eis um exemplo de como os torcedores podem ajudar seus times de coração e manter as tradições. Enquanto isso, no Brasil, ainda se discutem formas de fazer vaquinhas para ajudar clubes a pagar imensas dividas geradas por má gestão.
Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Iniciou a carreira como repórter esportivo, mas também dedica-se a editoria de turismo, com passagens por jornais como MetroNews, Folha de São Paulo, O Dia, dentre outros. Atualmente é editor da revista Qual Viagem e portal Travelpedia.
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