No Brasil, anualmente são registrados cerca de 50 mil ocorrências de violência verbal e psicológica. Campanha nas redes sociais apoia mulheres a denunciarem
O Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, que acontece no dia 25 de novembro, visa conscientizar pessoas do mundo inteiro de que a violência contra mulheres é uma das violações de direitos humanos mais persistentes e devastadoras – enraizada em séculos de dominação masculina. Este ano, uma campanha global realizada pela Babbel, considerada uma das empresas de educação mais inovadoras do mundo, em parceria com o Movimento #MeToo Brasil e o Instituto Maria da Penha, ajudará a amplificar vozes femininas em vários países com o intuito de estabelecer a consciência linguística de que a violência muitas vezes começa em palavras.
O que muitas pessoas não sabem é que, no Brasil, a Lei Maria da Penha enquadra agressões psicológicas. Este crime de violência verbal, que afeta profundamente a saúde mental, é registrado anualmente em média 50 mil vezes. 48% das mulheres apontam seus namorados, cônjuges ou ex-parceiros como autores, de acordo com dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde.
A campanha, idealizada pela Babbel, em parceria com o MeToo Brasil e o Instituto Maria da Penha, convida mulheres de todo o mundo a compartilharem suas experiências neste tema com as hashtags #wordsthathurt e #palavrasmachucam. O objetivo é incentivar a denúncia de violência psicológica/verbal e conscientizar sobre o quanto a linguagem pode ser utilizada para manipular, humilhar, ameaçar e ofender, uma vez que grande parte das mulheres não percebem que vivenciam esse tipo de abuso em seu cotidiano.
"Ataques como ´você não sabe o que diz´, ´você só fala besteira´ e ´cale a boca´ são manifestações de violência psicológica por meio de um discurso verbal que desqualifica e desvaloriza. Precisamos estar atentos à violência verbal porque ela tem o poder de aniquilar a auto-estima da mulher e causar depressão". Regina Célia é vice-presidente do Instituto Maria da Penha.
De acordo com Camila Rocha Irmer, linguista da Babbel, “se considerarmos que a linguagem é o principal filtro através do qual percebemos o mundo, é evidente que isso afeta a maneira como nos relacionamos e fazemos julgamentos. A palavra tem poder e, infelizmente, muitas vezes ela reproduz preconceitos, mesmo aqueles que tentamos esconder de nós mesmos, e ajuda a perpetuar opressões e desigualdades.
Para Isabela del Monde, coordenadora do MeToo Brasil, sócia da Gema Consultoria em Equidade e Cofundadora da Rede Feminista de Juristas - deFEMde, é preciso entender o que é a violência verbal e a seriedade deste tema. "Infelizmente, dados e pesquisas empíricas mostram que a violência doméstica, em regra, começa com a violência moral e psicológica e depois pode haver uma escala para violência física que pode levar ao feminicídio. As palavras têm poder e por isso uma campanha como essa é muito importante", destaca a advogada.
Confira abaixo algumas violências verbais recorrentes em discursos de agressão psicológica:
Expressões que designam as mulheres como um objeto, uma posse. São aquelas que praticam a violência psicológica ao se passar por expressões de amor. Quando, na realidade, revelam a intenção de ter controle sobre a mulher.:
Brasil
“Você é minha e de mais ninguém”
“Se você não ficar comigo, não ficará com mais ninguém”
Pelo mundo:
Argentina: “Calladita te ves más bonita” (“calada você é mais bonita”)
França: “Sois belle et tais toi” (“seja bela e pare de falar”)
Estados Unidos: “You look prettier when you smile” (“você fica mais bonita quando sorri”)
Itália: “Tanto a voi basta aprire le gambe” (“você só precisa abrir as pernas”)
Palavras que degradam a auto-estima da mulher ou que a impedem de acreditar que ela pode se defender sozinha
Mulheres em um relacionamento abusivo têm dificuldade para se libertar porque o agressor as humilha a ponto de destruir a força e a auto-estima necessárias para deixar o relacionamento.
Brasil
“Ninguém vai acreditar em você”
"Não presta nem pra cozinhar"
"Mal sabe lavar uma roupa direito"
"Você não tem amigos, todos falam mal de você"
"Sua família acha você imprestável, você só tem a mim"
Pelo mundo:
Argentina: “Con ese carácter, nadie te va a aguentar” (“com essa personalidade, ninguém vai te aguentar”)
Itália: “Sei pazza, non è mai successo, ti inventi tutto” (“você está louca, isso nunca aconteceu, você inventou tudo”)
Estados Unidos: “Women say ‘no’ when they mean ‘yes’.”’ (“mulheres dizem ‘não’ quando querem dizer ‘sim’)
Expressões que colocam a vítima como responsável pelo abuso
Nesses casos, a responsabilidade pela violência sofrida é implicada à vítima, absolvendo o agressor ou minimizando sua culpa.
Brasil
“Aquilo é mulher de malandro”
“Mulher tem que se dar o respeito”
Pelo mundo
Argentina: “Vos te lo buscaste” (“você que pediu”)
Colombia: “Eso fue que se lo dio al jefe” (significado: “ela deve ter dormido com o chefe”)
Estados Unidos: “That outfit she's wearing is asking for it” (“a roupa dela está pedindo por isso”)
Ameaças O medo de ser agredida ou até de morrer é um dos motivos pelos quais muitas mulheres permanecem em situação de abuso. Essas são algumas das violências verbais direcionadas a elas:
Brasil
“Se você me deixar, me mato”
“Se você me deixar, eu te mato”
Pelo mundo
Argentina: “No voy a permitir que estés con otra persona” (“não permitirei que você fique com outro pessoa”)
Itália: “Se provi a sentire ancora x (amico/collega), vedrai che succede.” (“se você tentar ouvir x (amigo/colega) novamente, você verá o que te acontece”)
Saiba mais sobre violência verbal e suas formas aqui: http://pt.babbel.com/violencia-verbal-contra-a-mulher
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