top of page
Buscar

O racismo no futebol: Uma chaga abominável e persistente

Foto do escritor: Roberto MaiaRoberto Maia

Por Roberto Maia


Acompanho o futebol desde criança e, infelizmente, vejo o racismo manchando o esporte que tanto amo. O recente caso envolvendo o jovem jogador do Palmeiras, Luighi, durante torneio Sub-20 no Paraguai, é apenas mais um capítulo de uma história vergonhosa que parece não ter fim.


Luighi, jovem promessa do Palmeiras, foi alvo de ataques racistas durante torneio Sub-20 no Paraguai. (Foto: Foto Fabio Menotti/Palmeiras)
Luighi, jovem promessa do Palmeiras, foi alvo de ataques racistas durante torneio Sub-20 no Paraguai. (Foto: Foto Fabio Menotti/Palmeiras)

Como observador atento do futebol, sinto uma mistura de raiva e tristeza quando vejo jogadores sendo submetidos a insultos racistas. O caso do Luighi me tocou profundamente, não apenas pela juventude do atleta, mas pela repetição de um padrão que já vimos tantas vezes.


Durante a partida contra o Cerro Porteño, no Paraguai, pela Copa Libertadores da América Sub-20, Luighi foi alvo de insultos raciais proferidos por adversários e torcedores. Como em tantos outros casos, vimos a indignação inicial, as notas de repúdio, promessas de investigação... mas quantas vezes já não ouvimos isso antes? Quantas punições realmente exemplares já foram aplicadas?


A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, se pronunciou de forma veemente, exigindo punições exemplares por parte da CONMEBOL e da FIFA. A dirigente classificou o episódio como "inaceitável" e "repugnante", e cobrou ações concretas das entidades para erradicar o racismo do futebol.


Penso no jovem Luighi e em como esse tipo de experiência pode marcar um atleta em formação. Aos 19 anos, ele deveria estar preocupado apenas em mostrar seu talento, em evoluir como jogador, em sonhar com uma carreira brilhante. Ao invés disso, foi forçado a lidar com o lado mais obscuro da nossa sociedade, refletido no microcosmo do futebol.


O Brasil, país de maioria negra, continua exportando talentos que sofrem racismo pelo mundo. Antes de Luighi, vimos Vinícius Júnior enfrentando episódios repetidos na Espanha, Richarlison denunciando insultos na Inglaterra, e tantos outros. No próprio Brasil, os casos são inúmeros, de jogadores profissionais até as categorias de base.


A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, pede punições exemplares por parte da CONMEBOL e da FIFA. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)
A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, pede punições exemplares por parte da CONMEBOL e da FIFA. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

As entidades que governam o futebol – FIFA, CONMEBOL, confederações nacionais – costumam se limitar a multas simbólicas e jogos com portões fechados. Medidas que claramente não têm surtido o efeito desejado. A mensagem continua sendo: o racismo no futebol tem consequências mínimas.


O caso de Luighi ressalta outra face desse problema: o racismo nas categorias de base. Estamos falando de jovens ainda em formação, tanto como atletas quanto como seres humanos. Qual o impacto psicológico? Como isso afeta o desenvolvimento desses talentos?


Acredito que precisamos de medidas mais contundentes. Suspensões prolongadas para jogadores que proferem insultos racistas. Punições esportivas severas para clubes e seleções que não conseguem controlar seus torcedores. Campanhas educativas que vão além dos protocolos de fachada.


O caso do jovem palmeirense deve servir como mais um alerta. Não podemos normalizar o racismo, tratando cada novo episódio como "mais um" na estatística. Cada caso representa um ser humano agredido em sua dignidade.


Como amante do futebol, sonho com o dia em que poderemos assistir a uma partida sem o temor de que nossos ídolos sejam atacados pela cor de sua pele. Até lá, cabe a todos nós – torcedores, jornalistas, dirigentes, jogadores – manter a vigilância e exigir ações concretas.


O talento de Luighi e de tantos outros jovens negros merece ser celebrado, não ofendido. O futebol, que une pessoas de todas as cores e origens, precisa urgentemente resolver essa contradição fundamental: como pode ser o esporte do povo enquanto permite que parte desse povo seja sistematicamente desrespeitada?


O caso de Luighi é um lembrete de que a luta contra o racismo no futebol está longe de terminar. É preciso que todos nós nos unamos nessa luta para construir um futuro em que o esporte seja um espaço de igualdade e respeito para todos. É hora de transformar indignação em ação para erradicar essa chaga abominável que persiste no futebol.





Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Escritor e editor do portal travelpedia.com.br


Comments


bottom of page