Por Paulo Panayotis
Ao contrário do Brasil, que tem uma rede ferroviária pífia, a Europa concentra mais de 250 mil quilômetros de trilhos que ligam praticamente todos os países do velho continente. Eu já viajei de todas as formas que você pode imaginar: de avião, de navio, de carro, ônibus, cavalo, camelo e até “pau de arara” no nordeste brasileiro. Mas de fato, minha forma preferida de viajar, em qualquer parte do mundo, é de trem: não tem estresse, não tem raio x, não tem fila. Em compensação tem muito conforto, tem horários e passagens flexíveis e, na maioria dos países, tem a possibilidade de embarcar na hora que chegar na estação e até mesmo antecipar sua partida. Bom não é?
Se você é como eu, trago uma excepcional notícia: em breve, a viagem de trem entre Paris, capital da França e Milão, na Itália, poderá ser feita pela metade do tempo. E isso somente será possível graças à construção do maior túnel ferroviário do mundo que terá 56,8 quilômetros de extensão e cortará os Alpes. Sim, os Alpes, a maior e mais badalada cadeia de montanhas da Europa. E tudo em alta velocidade e com muito luxo e mordomia. Para isso, o projeto prevê um investimento inicial de € 25 bilhões de euros, ou mais de R$ 151 bilhões de reais.
A União Europeia deve entrar com a metade do investimento e a França e Itália com a outra metade. Se tudo der certo, a viagem inaugural será em 2032 e os trens, que chegarão a 225 quilômetros por hora, farão o atual percurso, que leva mais de sete horas, em menos de quatro horas! Ou seja, se quiserem, moradores de Paris poderão ir trabalhar diariamente em Milão e vice versa. Primeiro mundo não é? Nem precisa dizer o que isso significará, também, para o turismo. Na prática, você viajará para Paris e, se quiser, poderá dar um pulinho em Milão ou outra cidade italiana que estiver no caminho, para almoçar, jantar ou passar um final de semana. Claro que as passagens não serão muito baratas e nem disputarão com os aviões. Nem é esse o objetivo. Mas, como já disse, viajar de trem, por tudo que oferece, nem se compara ao estresse de viajar de avião. Lembro de todas as viagens que fiz percorrendo países pelos trilhos dos trens.
A mais recente foi no Japão, “voando” pelo território nipônico com os trens bala japoneses. Com o Japan Rail Pass conheci a capital ,Tóquio, Kawaguchico, onde está o Monte Fuji, Kyoto, a antiga capital imperial e Kanazawa, no norte da Terra do Sol Nascente.Tudo de trem. Tudo prático! Tudo fácil! Tudo inesquecível!
Outra grande viagem foi pelo interior da Inglaterra, percorrendo a região dos lagos(Lake District), de uma beleza ímpar, até chegar em Edimburgo, a elegante capital escocesa. Lembro que a previsão para chegar em Edimburgo era por volta do meio dia. Grande parte dos trens, no Reino Unido, tem um serviço excepcional que inclui almoço e ou jantar executivo e serviço de bar.
Era por volta das 11 horas da manhã quando começaram a servir o almoço. Britanicamente educada, a atendente serviu a refeição e perguntou o que eu queria beber. “Posso ter gin tônica?”, arrisquei. Infelizmente, bebidas alcoólicas somente podem ser servidas após o meio dia, explicou ela olhando tristemente para mim. Puxa, disse eu, é meu primeiro dia de férias, por isso pedi o drinque a essa hora da manhã. Ela olhou para um lado, para outro e, piscando, disfarçadamente colocou três garrafinhas de gin dentro de um saco papel. Me entregou e, em seguida, pegou três tônicas em lata, um copão de gelo e rodelas de limão, concluindo: seus refrigerantes senhor, boas férias. Quer melhor início de férias?
Fotos: Paulo Panayotis
Paulo Panayotis é ex-correspondente internacional de TV, mergulhador, escritor e conhece quase 80 países. www.oquevipelomundo.com.br
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