Por Paulo Lázaro
Pesquisa publicada no Journal of Clinical Oncology (JCO), e que foi conduzida por médicos do grupo Oncoclínicas, que acompanharam 198 pacientes oncológicos que desenvolveram Covid-19 entre março e julho de 2020, apontou que a taxa de mortalidade é 16,7%, seis vezes maior do que o índice global de mortalidade pelo coronavírus, de 2,4%. Dos 198 pacientes oncológicos que foram contaminados, 33 morreram, sendo optado por medidas não invasivas em 1/3 destes.
Este estudo traz um interessante recorte de pacientes oncológicos brasileiros que realizavam tratamento ambulatorialmente e adquiriram a infecção na comunidade. O Plano Nacional de Imunização prevê que pessoas com câncer entrem na lista de prioridades em um momento futuro, mas os critérios ainda não foram definidos. Já a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica encaminhou ofício ao Ministério da Saúde solicitando prioridade a esses pacientes. A estimativa é que 1,5 milhão de brasileiros estejam em tratamento oncológico.
Outros estudos internacionais reforçam os dados brasileiros. Pacientes com LLC (leucemia linfocítica crônica) que desenvolvem a versão sintomática da Covid-19, por exemplo, têm um risco aumentado em 89% de hospitalização e 31% de morte. Os pacientes em tratamento ativo do câncer são considerados imunossuprimidos e, portanto, tendem a ter um pior prognóstico diante de doenças infeciosas. Ainda de acordo com o estudo, a maior taxa de mortalidade foi encontrada em pacientes acima de 60 anos, com história de tabagismo, comorbidades pré-existentes, tumores localizados no trato respiratório e câncer avançado ou metastático.
A pesquisa mostrou que o câncer em si não é um fator que aumenta a possibilidade de contaminação pelo Covid, mas esses pacientes muitas vezes estão usando drogas imunossupressoras e que não podem ser interrompidas. Esses pacientes também são obrigados a vários deslocamentos seja para fazer infusão de quimioterapia, ir a sessões de radioterapia, realizar exames em laboratórios, ou seja, correm maior risco de contaminação. Diante de todos esses fatos a pergunta é: pacientes com câncer devem ou não ter prioridade na vacinação contra Covid-19?
E quando esses pacientes ainda têm outras comorbidades como DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), diabetes e obesidade. Deveria ser criada uma lista das prioridades das prioridades?
Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o país conta com mais de 1,5 milhão de pessoas que dependem de tratamento oncológico, número que tende a aumentar, de acordo com a previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca) de novos 625 mil diagnósticos para 2021. Números que reforçam a imediata discussão sobre políticas públicas de imunização desse grupo.
Em termos práticos, como nenhum dos estudos das vacinas para COVID-19 selecionou pacientes oncológicos em tratamento a recomendação de sociedades médicas nacionais e internacionais favorece a vacinação após autorização da equipe médica assistente.
Paulo Lázaro é médico, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com doutorado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Especialista em Radioterapia e Neuro-oncologia. Idealizador do site Radioterapia Legal https://radioterapialegal.com.br
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