Por Heródoto Barbeiro
Ninguém imagina que possa ocorrer um embate entre o presidente do Brasil e o do Banco Central. O Banco Central pode influenciar os rumos econômicos e financeiros do país. Mas a indicação deve ser uma atribuição dele, assim como a nomeação de ministros do governo. Autoridade monetária é um conceito que não se encontra nem no vocabulário administrativo nem no político do país. O Brasil vive há tantos anos sem a existência de um Banco Central e pode continuar existindo sem ele, dizem os mais céticos. O Banco do Brasil faz, e muito bem, esse papel desde os tempos da fundação do Império e da República. Por que agora mudar e criar uma divisão na conduta da política econômica da nação? Este é um dos temas que frequentemente provoca reação das elites nacionais, especialmente dos banqueiros, herdeiros de instituições obtidas graças às influências das oligarquias regionais no governo federal.
A oposição critica a proposta de um Banco Central. Causa arrepio nos partidos de esquerda a divulgação de que o Banco Central possa ter autonomia, ou até mesmo independência, como ocorre nos Estados Unidos e Europa. A acusação principal é que ele vai garantir os ganhos da elite apelidada de rentista, isto é, os que têm dinheiro e investem ou nas bolsas de valores ou na compra de títulos de dívida pública, cuja remuneração está atrelada à taxa Selic calculada pelo banco. O aumento dessas taxas é considerado um remédio para o combate à inflação, mas isso nunca foi aplicado até o presente momento. Grupos de liberais, entre eles acadêmicos, gastam papel e tempo com teses sem efeito na política do dia a dia. As propostas de controle da inflação que são divulgadas nas campanhas presidenciais são ou inexequíveis ou simplesmente não existem. Não estão ao alcance da população e, principalmente, dos eleitores.
Ele é jocosamente apelidado pela esquerda de Bob Field. Roberto Campos é visto como um aliado dos interesses do Tio Sam no Brasil por meio da abertura da economia para as grandes empresas estrangeiras. Especialmente as americanas. A esquerda faz forte oposição a ele e a sua contribuição para a fundação de um Banco Central. É uma cópia do Federal Reserve, descrevem os panfletos do partidão distribuídos nos terminais de trens e ônibus das grandes cidades brasileiras. Do outro lado, os economistas liberais, entre eles Roberto Campos, dizem que os objetivos do banco são o de garantir a estabilidade do poder de compra da moeda e solidez e eficiência do sistema financeiro. O projeto da criação do banco rola há pelo menos dez anos. O debate descamba do campo técnico para o ideológico e coloca liberais de um lado e esquerdistas de outro. As lutas eleitorais para a presidência da República empurram o projeto de mandato para mandato. Finalmente, em dezembro de 1964, o decreto presidencial assinado por Castelo Branco funda o Banco Central. No início do ano seguinte, Dênio Nogueira se torna o primeiro presidente do Banco Central do Brasil. Os grandes desafios são, entre eles, a reforma do sistema financeiro nacional. O Banco do Brasil, que ocupava essa posição desde o século 19, passa a ser um banco comercial de capital estatal e privado e deixa a função de organizar a moeda. Mas isso não garante que no futuro as influências políticas no banco não deixarão de acontecer, e novos embates já estão no radar.
Heródoto Barbeiro é jornalista do R7, Record News e da Nova Brasil FM. Também é professor, Mestre em História pela USP e advogado pela FMU. Já passou pela TV Cultura, pela CBN e pela Globo. Você pode ver mais em www.herodoto.com.br
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