Obra retrata como o desemprego em massa afeta as relações familiares
Escrito em 1967 por Plínio Marcos, o texto do espetáculo Quando as máquinas param mostra uma realidade completamente atual: a dissolução de uma família por conta do desemprego em massa. Com montagem dirigida por Kiko Rieser, e produção da Cia Colateral, a peça acontece toda em preto e branco e conta a história de Zé e Nina, um casal que nunca foi abastado, mas sempre teve o suficiente para pagar as contas em dia, fazer refeições dignas e ainda sonhar com um crediário para comprar uma televisão e, assim, ver os sons das radionovelas e das narrações de jogos de futebol se tornarem imagens
No entanto, uma demissão em massa na fábrica em que Zé trabalhava como operário faz essa realidade mudar drasticamente, e nem as costuras de Nina para senhoras ricas conseguem dar conta das faturas que não param de chegar. A desesperança do operário se transforma em um sentimento de humilhação e, depois, em uma revolta que afunda os dois na imobilidade e ameaça o casamento.
Com os atores André Kirmayr e Larissa Ferrara no elenco, a temporada acontece pelo YouTube do Centro Cultural São Paulo e segue gratuita até dia 20 de abril.
Para o diretor Kiko Rieser, “a despeito de Quando as máquinas param não se filiar ao conjunto mais conhecido da obra do dramaturgo, é provavelmente sua peça que hoje mais fala à nossa realidade. Expondo uma situação de colapso econômico e social, em que demissões em massa dissolviam famílias e levavam pessoas à mais profunda miséria, o texto ganha renovada pungência hoje, quando batemos novamente recordes de desemprego, tendência que só tende a se agravar com as consequências da pandemia.”
Sobre a encenação
A residência que serve de locação para a peça é adereçada de forma realista, com riqueza de detalhes, buscando retratar a década de 60 e a condição social de Nina e Zé, de uma simplicidade cuidadosa. Assim também é o figurino, com recorte temporal e tratamento de envelhecimento que deixam claro que não são roupas novas, mas ainda demonstram a dignidade de duas pessoas que vêm até então conseguindo se manter de cabeça erguida. Detalhes da indumentária também dão a ver o capricho de Nina, em que pese o fato de ela ser costureira.
O foco da montagem, no entanto, é o trabalho dos atores, investindo nas profundas contradições desses dois personagens. A câmera é um terceiro personagem, agindo e se movendo junto com os atores, buscando uma dinâmica próxima ao cinema, sem, no entanto, perder a teatralidade intrínseca do texto e da potência dos atores.
Serviço
Quando as Máquinas Param
Até 20 de abril de 2021
Segundas e terças, às 20h
Gratuito
Duração: 85 minutos
Link de transmissão: http://youtube.com/CentroCulturalSaoPauloCCSP
Projeto realizado com apoio do edital ProAC LAB nº 36
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