Estudo sobre o tema contou com a participação do médico Paulo Mattos, psiquiatra e coordenador de pesquisa em neurociências do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino
Relativização, preconceito, equívocos de diagnóstico e tratamento são questões frequentemente relacionadas a problemas de saúde mental. O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é um deles. A doença afeta cerca de 5,9% de crianças e adolescentes e 2,5% de adultos, segundo o maior consenso internacional sobre o assunto publicado no começo de fevereiro no periódico Neuroscience and Biobehavioral Reviews.
O estudo contou com a participação do brasileiro Paulo Mattos, psiquiatra e coordenador de pesquisa em neurociências do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. O objetivo do trabalho não é trazer novidades sobre a doença, mas, sim, reunir informações que já foram publicadas e checar sua validade e atualização.
Dentre as observações presentes no material, Mattos chama a atenção para dois pontos: “Uma coisa que o consenso deixa bem claro é que o diagnóstico do TDAH é clínico. As pessoas se sentem inseguras, mas não existe exame para diagnóstico em psiquiatria. É assim inclusive com outras enfermidades como transtorno bipolar, esquizofrenia, autismo, transtorno do pânico e TOC”.
Ainda sobre diagnóstico e tratamento, o médico e pesquisador aproveita para chamar a atenção para o cenário brasileiro. “Para a maioria da população ocorre uma falta de diagnóstico e, consequentemente, de tratamento. Se pegarmos o número total de portadores de TDAH e calcular a produção da indústria farmacêutica de ritalina [principal medicamento usado no tratamento do transtorno], constatamos que nem 1/3 dos pacientes do Brasil estão sendo medicados”.
O estudo ainda enfatiza que muitos casos têm origem por meio de uma combinação de fatores genéticos e ambientais/físicos, como fumar durante a gravidez, traumatismo e complicações na hora do parto. Além disso, pessoas que têm o transtorno trazem pequenas diferenças no cérebro em relação a quem não tem, nas regiões do córtex e subcórtex; e, quando não tratado corretamente, o TDAH pode se associar a diversos desfechos negativos.
“Nas crianças, os sintomas de TDAH se associam muito mais ao fracasso acadêmico e à evasão escolar. Essas crianças e adolescentes também têm muito mais risco de acidentes, por conta do próprio comportamento deles. Já na adolescência e início da vida adulta, aumentam-se os riscos do uso de álcool e substâncias ilícitas e, na vida adulta, estes efeitos adversos associam-se muito a um maior número de divórcios, ou seja, de fracassos em casamentos, e de desemprego e de mortes por acidentes”, afirma o psiquiatra.
Em tempos de pandemia e isolamento social, o psiquiatra ressalta que é muito importante ter atenção aos problemas de saúde mental em geral e que, apesar do presente trabalho não abordar esta questão especificamente, ele observa que as crianças e os adolescentes que têm TDAH vêm sofrendo muito com o atual cenário.
“As aulas remotas são um desafio importante para quem tem TDAH porque são pessoas muito ativas e inquietas. Mesmo com o tratamento, elas têm dificuldade de ficar sentadas, principalmente de frente para a tela do computador, sem poder brincar e sair de casa. É uma realidade muito difícil para quem tem TDAH”, destaca.
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