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Tolerância Zero: a nova era da arbitragem no futebol brasileiro

Por Roberto Maia


Quem acompanha os jogos do Brasileirão da Série A, especialmente pela televisão, tem notado um aumento significativo nas reclamações vindas dos bancos de reservas. Técnicos, auxiliares, jogadores, diretores e até médicos e massagistas, frequentemente dirigem críticas ao trio de arbitragem. Além do quarto árbitro que é principal alvo por se posicionar entre os bancos dos times.


A inclusão dos técnicos no sorteio pré-jogo busca promover um espírito de fair-play e integração entre todos os envolvidos. (Foto: Felipe Oliveira/E.C. Bahia)

Para coibir esse comportamento, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) adotou uma nova diretriz que orienta os árbitros a punirem com mais rigor as reclamações excessivas. Na prática, isso resultou em um aumento no número de cartões amarelos e vermelhos distribuídos durante as partidas.


A medida, que entrou em vigor no início do atual Brasileirão, autoriza os árbitros a paralisarem o jogo e aplicarem punições a qualquer integrante da comissão técnica ou jogador que esteja na área técnica e banco de reservas, caso se sintam excessivamente pressionados. O objetivo é reduzir a formação das tradicionais "rodas de reclamação" em torno dos árbitros e desencorajar comportamentos desrespeitosos. Os árbitros têm seguido um padrão ao justificar essas punições, registrando nas súmulas que as advertências foram motivadas por desaprovação verbal ou gestual das decisões de arbitragem.


Contudo, a nova diretriz gerou controvérsia e dividiu opiniões. Sálvio Spínola Fagundes Filho, ex-árbitro e ex-comentarista de arbitragem, critica a medida, argumentando que a "tolerância zero" pode desgastar a relação entre árbitros e atletas, além de criar um ambiente de conflito constante. Ele sugere que a CBF deveria considerar a implementação de inspetores de jogo com autoridade superior à do quarto árbitro. Algo semelhante ao que ocorre em competições internacionais como a Libertadores, organizada pela Conmebol. Medida necessária já que o quarto árbitro não possui autoridade necessária para inibir comportamentos indisciplinados de técnicos e jogadores.


A construção de um relacionamento mais respeitoso e dialogado entre jogadores, técnicos e árbitros seria uma alternativa mais eficaz. Por isso, a CBF, buscando melhorar essa relação, introduziu recentemente uma nova prática: a participação dos técnicos no sorteio pré-jogo, que determina o lado do campo e quem inicia com a bola. Tradicionalmente, esses sorteios contavam apenas com o trio de arbitragem e os capitães das equipes.


Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, é conhecido por seu comportamento explosivo à beira do campo e acumula advertências com cartões amarelos e expulsões. (Foto: César Greco/Palmeiras)

No entanto, a efetividade dessas medidas ainda está em debate. O técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, é um exemplo de resistência à mudança. Ele é conhecido por seu comportamento explosivo à beira do campo, acumulando diversos cartões amarelos e expulsões desde 2019, quando os técnicos passaram a ser punidos com cartões. A insistência do português em contestar as decisões da arbitragem destaca o desafio contínuo em disciplinar figuras de liderança dentro do futebol brasileiro.


A tentativa da CBF de impor maior disciplina nos jogos do Brasileirão tem gerado uma série de reações. A aplicação rigorosa de cartões é uma solução imediata. Porém, a construção de um ambiente de respeito mútuo e diálogo contínuo pode ser a chave para uma convivência mais harmoniosa entre árbitros e equipes. Infelizmente ainda há muito a ser feito para que o futebol brasileiro alcance um equilíbrio saudável entre disciplina e competitividade.





Roberto Maia é jornalista e cronista esportivo. Iniciou a carreira como repórter esportivo, mas também dedica-se a editoria de turismo, com passagens por jornais como MetroNews, Folha de São Paulo, O Dia, dentre outros.


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