Por Paulo Panayotis
Atenas - Grécia - Não é a primeira vez. Mas desta vez está mais forte e consistente do que nunca. Sim, uma revolta com ares de revolução toma conta de praticamente todas as praias europeias neste verão. Acabei de voltar da Grécia e presenciei isso nas ilhas gregas, destino sonhado por dez em dez turistas. Até porque praia e democracia são assuntos muito caros ao povo que nos legou tantas coisas, entre elas, o respeito ao direito dos outros. A constituição grega, há muitos e muitos anos, garante para todos, indistintamente, o acesso às praias. A todas elas, sem exceção. Apesar disso, parece que o mundo caminha na contra mão dos direitos alheios e até lá, berço da democracia, o abuso de restaurantes, bares e cafés é irritantemente visível. Cercam grandes trechos de praia, espalham cadeiras, espreguiçadeiras e guarda sois e cobram o que bem entendem.
Em Paros, uma das mais conhecidas e celebradas ilhas gregas, a revolta está armada. Moradores locais e turistas gregos exigem das autoridades novas leis e fiscalização que garantam espaço suficiente para estender suas humildes toalhas nas praias. Conhecido como “A revolta das toalhas”, o movimento se espalhou por todo o país e pela Europa. Agora, os gregos exigem uma nova legislação específica. Já colheram a primeira onda de resultados: neste verão um aplicativo lançado pelo governo incentiva os banhistas a denunciarem irregularidades e abusos. Na Grécia, como no Brasil, todas as faixas a beira mar são propriedade do Estado.
Itália e o lobby dos “donos” das praias
Já na Itália, onde grande parte das praias é de uso privado, o problema e os abusos são maiores ainda! Dos quase quatro mil quilômetros de orla, mais da metade está nas mãos das mesmas famílias há dezenas de anos. E eles são tão fortes e unidos que ameaçaram uma greve de “guarda-sóis” em pleno verão caso a União Europeia resolva intervir no setor. Ou seja, como são privativas, “adquiridas por concessão”, eles afirmam que poderão fechar as praias e ninguém poderá usá-las.
Para os juízes da União Europeia, tais concessões não podem ser renovadas automaticamente e nem seus donos cobrarem o que bem entendem. Ah, sabe quanto geram os negócios deles? Mais de 15 bilhões de euros ao ano, ou cerca de 90 bilhões de reais, “capisce”? Multiplique isso por mais de 20 mil praias em toda a Europa e veja o tamanho do “imbróglio”! Briga de “italiano grande” que vai esquentar ainda mais os verões por lá!
E no Brasil? Ah, o “Brazil”!!
Por aqui, este hábito relativamente recente, gerou filhotes sedentos, especialmente no nordeste brasileiro. Hoje, muitas praias brasileiras estão loteadas. Tente encontrar um lugar para colocar seu guarda-sol nos melhores trechos das orlas de Maceió, Salvador, Recife ou Fortaleza. Isso sem falar que muitas praias já estão totalmente bloqueadas com a placa, ou melhor o título “área privativa”.
A prática está tão institucionalizada, que muitas agências de turismo e resorts já vendem seus pacotes oferecendo praias privativas. Por aqui, os valores sobem e descem ao sabor das marés. Podem chegar a extorsivos R$ 200,00 ou mais de EU$ 33,00 em muitos lugares. Espero, sinceramente, que esta revolta que está prestes a se tornar uma revolução na Europa, ocorra rapidamente por terras (praias) brasileiras. Então? Você iria para a frente de batalha? Ou, como faz a maioria, daria de ombros e pediria mais uma caipirinha?
Paulo Panayotis é ex-correspondente internacional de TV, mergulhador, escritor e conhece mais de 70 países. www.oquevipelomundo.com.br
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