Por Paulo Panayotis
Nuits-Saint Georges – Borgonha - França. Após dobrar uma esquina, passando por ruelas estreitas, típicas da Idade Média, sinto o primeiro impacto. Em meio a pequeninas casas de pedra e vinhedos a perder de vista, surge a Cuverie Les Ursulines. Um amplo estacionamento se contrapõe às estreitas ruas percorridas até chegar nesta que é uma “adega” única em toda a Borgonha e, talvez, em toda a França.
Bem humorada, Véronique Desmazure nos dá as boas vindas: “É muito cedo para tomar um bom tinto? “pergunta ela, sorridente. Alexandre Boujon se junta a nós. “Bem vindos à Cuverie Les Ursulines” dispara ele em tom contido e respeitoso. “Falo em inglês ou francês?”, pergunta o responsável pelo atendimento VIP da casa. Prestigiada, controvertida, mas acima de tudo, respeitada, a casa de vinhos de Jean-Claude Boisset nem precisaria produzir bons vinhos com as uvas pinot noir, aligoté e chardonnay. Mas produz. E dos melhores!
Dono de uma fortuna calculada modestamente em quase cinco bilhões de reais pela revista Forbes, Boisset vem de família com pedigree borgonhês e instinto de homem de negócios americano. Norte-americano, para ser mais preciso. Dono de um império que construiu de forma brilhantemente excêntrica, possui boa parte dos mais prestigiados vinhedos da Borgonha e da Califórnia. Nem por isso descansa. “As obras de construção duraram mais de quatro anos”, informa Véronique, após nos mostrar um vídeo rápido sobre todo o processo que teve a supervisão do mesmo arquiteto que restaurou prédios históricos, como o Palácio de Versailles. “Fréderic Didier dirigiu pessoalmente o nascimento, crescimento e implantação de todos os trabalhos nas Ursulinas”, completa ela.
Antigo convento de uma ordem de freiras fundada no século XIV na Itália, o local foi todo restaurado, preservando sua história centenária. Tudo isso teve início em 1983 quando Boisset, o excêntrico francês com alma americana, adquiriu a propriedade. Não descansou enquanto não cravou, no meio da Borgonha, sua marca. Em suas grandes barricas de carvalho francês, por processo de gravidade, são vinificados e guardados grandes vinhos.
Experimento vários vinhos entre eles o branco Meursault Premier Cru, Charmes, de 2016, e o tinto Beaune Premier Cru, Les Grèves, de 2015. Magistrais. Perfeitos, apesar de jovens. No entanto, o que mais me atrai é o local, meio mágico, meio religioso, totalmente inusitado. O cheiro de carvalho misturado ao aroma de mosto de uvas impregna tudo. Conheço o subsolo, percorro as caves, noto os detalhes e imagino, centenas de anos antes, o trabalho frenético das freiras cuidando de lavradores doentes, gente pobre, inválidos, gente humilde, gente do povo.
O enorme mural de vidro translúcido simbolizando uma videira, domina praticamente todo o espaço superior da estranha Catedral do vinho. Olhando bem, substitui a cruz que, imaginem vocês, havia outrora por aqui. E com vantagem! A luz do sol que entra por ela torna o ambiente ainda mais mágico, sedutor, único! “Atendemos somente mediante reserva e, no máximo, pequenos grupos de até oito pessoas”, esclarece nosso guia VIP, me fazendo subitamente voltar de meus pensamentos. Se, por dentro a vinícola é ultramoderna, clean e até mesmo minimalista, por fora quase não se nota o que de fato existe lá dentro. Uma verdadeira montanha foi erguida sobre o gigante de aço e concreto meticulosamente projetado para guardar vinho e memória. Recoberta com mais de um metro de terra fértil e argilosa da Borgonha, uma vegetação típica e muito bem cuidada dá as boas vindas à primavera.
Pela primeira vez não sei se gosto mais do vinho, da cave, da história ou se se de tudo ao mesmo tempo. Difícil decidir. Entre um gole e outro, só tenho uma certeza. É, de fato, uma Catedral do vinho! E olha que nem precisa ser religioso para gostar deste lugar... Gostou? Quer conhecer esta e outras vinícolas únicas na Borgonha? Então escreve para mim que eu providencio tudo. Abr ppanayotis@oquevipelomundo.com.br
Fotos: Paulo Panayotis – Adriana Reis e divulgação
Os jornalistas estiveram no local a convite do Escritório de Turismo de Gevrey-Chambertin e Nuits-Saint-Georges e viajam com patrocínio e apoio Avis.
Paulo Panayotis é ex-correspondente internacional de TV, mergulhador, escritor e conhece mais de 70 países. www.oquevipelomundo.com.br
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