Por Paulo Panayotis
Considere que, por suposição, você tinha uma belíssima viagem programada, agendada e paga! E que, como todo o resto da humanidade, foi pego na curva chinesa pelo tal do coronavírus. O que fazer? Bom, para começar, saiba que todo mundo está no mesmo avião, digo, no mesmo barco com você. Milhões de pessoas no planeta foram pegas desprevenidas. Então, por favor pare de achar que é um desventurado, um indivíduo sem sorte, que tudo acontece somente com você. Como jornalista profissional, ex-correspondente internacional, escritor e viajante inveterado, eu dou apenas uma dica: não cancele sua viagem.
Adie. Por quê? Simples, porque, agindo assim, você mantém algo para sonhar até acabar esse pesadelo pandêmico mundial e, ao mesmo tempo, ajuda a indústria do turismo que é uma das mais afetadas por esse vírus sem vergonha e sem fronteiras! Não ficou convencido? Seguem alguns casos mais, digamos, dramáticos que o seu:
Largado e isolado no interior do Brasil. O primeiro é um caso nacional, digamos assim. Um amigo, músico famoso, D.S, acima de 60 anos, figura pública, postou um vídeo nas redes sociais nesta semana revelando suas desventuras em um remoto e completamente vazio aeroporto no interior de Santa Catarina. "Não tem voos, não tem informações, não tem ninguém", falava ele enquanto mostrava as imagens da solidão que o invadia em terras catarinenses."Não sei como vou voltar nem se vou voltar" finalizava ele, rosto perplexo, quase transtornado, barba na moda, sem ser feita há quatro ou cinco dias.
Relaxe, comentei eu. A Europa está fechada, a Escandinávia está fechada. Não seria o Brasil que permaneceria aberto não é? Vai dar tudo certo, profetizei no post escrito à la moda atual: rapidamente e pelo celular.
Largados e isolados no interior da Noruega. O segundo caso é mais dramático. Um casal de amigos gaúchos, que há anos mora no Rio de Janeiro, estava no interior da Noruega. Felizes e desencanados, estavam por lá para realizar um sonho antigo: ver de perto a espetacular aurora boreal. Rapidamente: é aquele fenômeno no qual luzes bruxuleantemente coloridas dançam no céu da noite polar. Lindo não é? No entanto, quando estavam para realizar, batem na porta do quarto do local onde estavam hospedados próximo do círculo polar ártico: "Vocês precisam sair agora daqui. O país vai fechar as fronteiras. Apressem-se". E ambos, com mais de 60 anos de idade, se viram na neve norueguesa, sozinhos e com o carro atolado! Soube dois dias depois que, milagrosamente conseguiram ir para Estocolmo, na Suécia, de lá para Paris, na França e aterrissaram no Rio de Janeiro com muita história na bagagem. Mas já pensam nos planos de virem me visitar na Franca, assim que a situação se normalizar.
Largada e com viagem cancelada para Tailândia. O último caso, talvez o mais dramático do ponto de vista emocional, acontece, ainda agora, com minha amiga a Digital Influencer e viajante contumaz C.C. 34 anos. Presa na Noruega, com passagem aérea para a Tailândia, perdeu a passagem pois todo os voos para Bangkok foram cancelados. A duras penas, conseguiu um voo para Londres e está lá, agora, a espera do voo que deverá levá-la de volta ao Brasil neste próximo final de semana. "Se não conseguir voar Camila, atravesse o Canal da Mancha e venha ficar conosco", postei na timeline dela. Amigo que é amigo, para mim, é também e principalmente para essas horas. Vai dar tudo certo, encerrei sem muito drama. Ela, que ama viajar, vai apenas adiar seus próximos voos e já sonha com futuras viagens pós pandemia. O post dela revela, no entanto, que para muitos o coronavírus tem o condão de fazer pensar, refletir, mudar posturas, crescer. É comovente como a internet, nestes casos, nos leva para longe e ao mesmo tempo nos aproxima.
A conclusão? Ainda está por vir. Mas uma, seguramente, já tirei disso tudo. Isolado no paraíso, aqui na montanha de Beaune, no interior da França, de onde escrevo neste instante, uma certeza é indissolúvel: não cancele sua viagem, #adie.
Espero que esse tal vírus sirva de inspiração para que você aja assim daqui para frente: não cancele nada na sua vida! Viva intensamente! No máximo, adie!
Paulo Panayotis é jornalista especialista em turismo, mergulhador e fundador do Portal OQVPM - O Que Vi Pelo Mundo. Mora na Europa, tem passaporte carimbado em mais de 50 países e viaja com patrocínio e apoio Avis, Travel Ace, A Casa do Chip e Alitalia.
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