Por Paulo Panayotis
Eurostar, Canal da Mancha. Enquanto escrevo este artigo, o trem que liga Londres, na Inglaterra, à Paris, na França, cruza o Canal da Mancha a mais de trezentos quilômetros por hora e a mais de cem metros de profundidade. Penso comigo mesmo: nunca foi tão fácil, rápido e confortável percorrer cerca de quinhentos quilômetros e ir de um país ao outro em pouco mais de duas horas!
Enquanto espero, dentro de um táxi, o trânsito de São Paulo voltar a andar, bate aquela angústia: será que vou perder o voo? Será que o voo está lotado? Será que vou conseguir um bom lugar? Vai ter criança chorando durante todo o voo? Estou embarcando do Brasil para a França, pela Air France, companhia aérea querida que, nos últimos anos, deixou de ser tão querida assim. Tá certo que a pandemia mudou e continua mudando nossos hábitos e as operações da maioria das grandes companhias no mundo. Não estaria, portanto, na hora de você também mudar?
A ideia deste artigo é antiga. Tentar comparar o incomparável: viajar de avião ou de trem? À medida que o tempo vai passando e eu vou me acostumando ao trem, um conceito se consolida em minha mente: viajar de avião se tornou, nos últimos anos, algo extremamente chato, angustiante e desconfortável. Vamos comparar? Viajar de avião no Brasil já foi bom. O refrão “Varig, Varig, Varig” soa memoravelmente em minha mente. Eram os tempos áureos da aviação brasileira. “Aeromoças” educadas, bem vestidas e bem remuneradas eram felizes e orgulhosas em bem atender aos passageiros. Hoje, poucos anos depois, os serviços das principais companhias aéreas brasileiras estão um pouco aquém do péssimo. Desde o instante do check-in no aeroporto, passando pelo estressante sistema de detector de metais e do despacho das malas, tudo é absolutamente enervante, irritante! Pior! Agora se paga por tudo, seja para despachar malas, seja para escolher assento.
Paris. Com muita calma e pouquíssima antecedência, pego um metrô em qualquer parte da capital francesa e, em poucos minutos, chego à estação de trem Gare du Nord. Sem fila, sem stress, sem correria e, principalmente sem pagar nada a mais para despachar mala ou para escolher assento. Embarco tranquilamente. O passaporte é checado eletronicamente, sem a presença de ninguém. A bordo, mesmo nas classes econômicas, o serviço de internet sem fio (Wi-fi) é gratuito e eficiente. Tem cafeteria a bordo. Lanches gostosos, quentes e a preços justos. Na primeira classe serviço completo: aperitivos e sanduíches de salmão ou refeições quentes, dependendo do horário, incluídas no preço do bilhete. Tudo farto, tudo à vontade, sem miséria e com muito conforto. Chego à estação de King’s Cross St Pancras, em Londres, descansado e feliz. Lembro, quase com pesar, do serviço de bordo em meu último voo de Paris para Atenas. Após um embarque altamente estressante, cadeiras pequenas, apertadas e crianças gritando. Pena que o Brasil não tem – nem nunca terá – um serviço ferroviário como no resto do mundo civilizado. Não cabe aqui discutir a razão! Mas cabe, seguramente, a reflexão... Sempre que houver a possibilidade de escolher, não tenho a menor dúvida: vou de trem! Avião, nunca mais, ou melhor, apenas quando não houver outra possibilidade.
O jornalista Paulo Panayotis viajou a convite do Visit Britain e da Rail Europe com seguro-viagem da Travel Ace. Esta reportagem foi escrita antes da Pandemia.
Fotos: Paulo Panayotis, Adriana Reis & Divulgação.
Paulo Panayotis é jornalista profissional, ex-correspondente internacional de TV, escritor, mora pelo mundo e especialista em curadoria para a Grécia e a França.
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